Translate

Translate

sábado, 27 de setembro de 2008

Sobre agricultura ecológica, aquecimento global, novo, velho, uréia e cavalos

Sobre agricultura ecológica, aquecimento global, novo, velho, uréia e cavalos.
Laércio Meirelles[1]


Em Brasília, Brasil, entre os dias 10 e 13 de abril de 2008, o Comitê para a Soberania Alimentar - CIP (Coordenação Regional da América Latina e do Caribe) facilitou a realização da “Conferencia Especial para a Soberania Alimentaria, pelos Direitos e pela Vida”. Provenientes de 20 países reuniram-se 140 representantes, homens e mulheres, camponeses, agricultores familiares, trabalhadores rurais, pescadores artesanais, jovens, Povos Indígenas, redes e ONGs envolvidos na luta pelo direito à soberania alimentar e pelo direito à alimentação, para analisar o desenvolvimento econômico e social da América Latina, o modelo industrial de agricultura e pesca e seus efeitos sociais e climáticos, e as alternativas baseadas na soberania alimentaria.
Foram quatro dias de apresentações sobre diferentes realidades, debates e reflexões. Conclusões? Nenhuma novidade: as veias do continente seguem abertas. Nos últimos tempos, as velhas estratégias de espoliação se modernizaram; mudaram a forma mas mantiveram o conteúdo, gerando o de sempre, desde cinco séculos: desigualdade social e degradação ambiental.
Exemplos? Os agrocombustíveis são um exemplo interessante, por ser um bom vaso comunicante entre a problemática rural e urbana. Para seguir entupindo as artérias das cidades, mas diminuindo as emissões de CO2, se propõe a produção de agrocombustíveis com um padrão tecnológico que é netamente emissor de gases estufa. Pelo menos fica a vantagem de concentrar mais as terras e diminuir a produção de alimentos. Claro, se não fosse uma vantagem para alguns, não seria visto como solução.
O discurso midiático dos agrocombustíveis promete ampliar a renda de agricultores familiares, mitigar o câmbio climático e frear a alta do preço do petróleo. Os efeitos colaterais não importam: concentração agrária e competição, por terra e água, entre cultivos energéticos e a produção de alimentos. Uma vez mais, os benefícios não chegam ao bolso de quem produz em pequena escala. Concentra-se nas mãos de poucos.
Falando de mídia, o aquecimento global é o problema da hora. Criado por poucos, sentido por todos, existe uma clara intenção de falsear a verdade, socializando responsabilidades. Como saída, a perversa lógica de gerar problemas para vender soluções segue sendo priorizada. Buscar novos – e vendáveis – combustíveis sim, aumentar eficiência e diminuir necessidades, não. Consumir menos? Nem falar. Ainda mais agora que estamos convencidos que o consumo é o antídoto da depressão – econômica ou humana – e a pílula da felicidade.
Na agricultura essa perversa lógica encontrou um campo fértil. Ali, a tônica dos últimos séculos foi a substituição de “velhas” técnicas de produção que priorizavam os recursos locais por outras, mais “modernas”, baseadas em insumos industriais. Muitas destas substituições significaram,  e significam, menos seqüestro e mais emissão de gases que provocam o efeito estufa. Cavalos por tratores, leguminosas por uréia, consórcio e rotações por praguicidas. Neste mesmo período se amplia a transformação dos produtos agrícolas, assim como os quilômetros percorridos até o consumo. Gasta-se mais energia, emitem-se mais gases.
Já há algumas décadas a Agricultura Ecológica busca reescrever esta história, deixando o “moderno” ultrapassado e fazendo do “velho” a novidade. Simples na sua prática, sofisticada no seu desejo de explicá-la, a mescla de saberes ancestrais e conhecimentos contemporâneos vem funcionando em inúmeros rincões latino-americanos. Evitando emissões da fabricação e distribuição dos arsenais militares travestidos de insumos agrícolas, mantém os ciclos de nutrientes mais próximos aos ciclos naturais e emite menos gases que fazem do planeta uma grande estufa.
Além disto, gera condições para que homens e mulheres permaneçam no campo, pressiona menos os recursos naturais, produz alimentos e fibras de qualidade. De passagem esfria o planeta, utilizando a feliz expressão de Via Campesina.
Se a saída para o aquecimento global exige novas alternativas de energia, e o sol deve ser uma das principais fontes a serem adotadas, nada mais lógico que buscar uma produção agrícola que tenha como matriz energética o sol. Trocando insumos industriais baseados no petróleo por insumos naturais baseados na fotossíntese ­­ uréia por leguminosas, praguicidas por consórcios e rotações,…
Fazer agricultura esfriando o planeta não é uma tarefa estritamente agronômica. Faz-se necessária uma olhada em todo o sistema agro-alimentar. Promover os produtos locais e o comercio local, por motivos óbvios, é também condição indispensável para isto. O conceito de “food miles” é antigo e hoje sabemos que para um consumidor europeu consumir um quilo de morangos do Sul do Brasil, no outono, 13 kg de CO2 são emitidos apenas no trajeto interoceânico.
O exemplo da agricultura é emblemático e poderia servir de referencia sobre o modus operandi da sociedade contemporânea. Problema identificado, a fome. A pseudo busca de soluções começa pelo aumento da produção mundial de alimentos. Para isto, a partir de problemas técnicos reais, falsas necessidades foram criadas. Soluções vendidas. Uma revolução proposta. Efeitos colaterais, sociais e ambientais, ignorados. Mesmo o objetivo que foi alcançado, o aumento da produção, não solucionou o problema, a fome.
Estes fatos se tornam comuns, agora que a política está descolada da ética e submetida à economia, as pessoas são consumidores e a vida virou mercadoria. Reverter isto depende da mesma equação que se demonstrou exitosa na agricultura: fazer do velho o moderno, mesclando passado e futuro, re
-
cr
i
eando o agora.
Os exemplos de como fazer agricultura ecológica têm como protagonistas os mesmos atores citados no início, presentes na reunião em Brasília. Definitivamente não são eles os responsáveis pelo aquecimento global, ainda que o discurso oficial insista “que cada um deve fazer sua parte” para mitigar o problema. No caso destes atores, “fazer sua parte” significa seguir fazendo o que fizeram através dos séculos, mantendo e defendendo os modos de produção agrícola, e de vida, que eles mantêm e defendem desde sempre. Aos outros, lhes compete seguir o exemplo, reencontrar seu caminho.


[1] Engenheiro Agrônomo, coordenador do Centro Ecológico, ONG que desde 1985 trabalha com assessoria e formação em Agricultura Ecológica.

terça-feira, 10 de junho de 2008


Sobre agricultura ecológica, calentamiento global, nuevo, viejo, urea y caballos.
Laércio Meirelles[1]


En Brasilia, Brasil, entre los días 10 y 13 de abril de 2008, el Comité para la Soberanía Alimentaria - CIP (Coordinación Regional de América Latina y el Caribe) facilitó la realización de la “Conferencia Especial para la Soberanía Alimentaria, por los Derechos y por la Vida”. Provenientes de 20 países, se reunieron 140 representantes, hombres y mujeres, campesinos, agricultores familiares, trabajadores rurales, pescadores artesanales, jóvenes, Pueblos Indígenas, redes y ONGs involucrados en la soberanía alimentaria y el derecho a la alimentación, para analizar el desarrollo económico y social de América Latina, el modelo industrial de agricultura y pesca y sus efectos sociales y climáticos, y las alternativas basadas en la soberanía alimentaria.
Han sido cuatro días de presentaciones sobre diferentes realidades, debates y reflexiones. ¿Conclusiones? De un lado, nada novedoso: las venas del continente siguen abiertas. En los últimos tiempos, las viejas estrategias de expoliación se han modernizado; cambiaron la forma pero mantuvieron el contenido, generando lo de siempre, desde hace cinco siglos: desigualdad social y degradación ambiental.
¿Ejemplos? Los agro – combustibles se vuelven un ejemplo interesante por ser un buen vaso comunicante entre la problemática rural y urbana. Para seguir obstruyendo las arterias de las ciudades, pero disminuyendo las emisiones de CO2, se propone la producción de agrocombustibles con un patrón tecnológico que es netamente emisor de gases invernadero. Al menos queda la ventaja de concentrar más las tierras y disminuir la producción de alimentos. Claro, si no fuera una ventaja para algunos, no sería visto como solución.
El discurso mediático de los agrocombustibles promete ampliar los ingresos de agricultores familiares, mitigar el cambio climático y frenar el alza del precio del petróleo. Los efectos colaterales no importan: concentración agraria junto con competencia, por tierra y agua, entre los cultivos energéticos y la producción de alimentos. Una vez más, la ganancia no llega al bolsillo de quien produce en pequeña escala. Se concentra en unos pocos.
Hablando de medios de comunicación, el calentamiento global es el problema de moda. Creado por pocos, sentido por todos, existe un claro intento de falsear la verdad, socializando responsabilidades. Como salida, la perversa lógica de generar problemas para vender soluciones sigue siendo priorizada. Buscar nuevos – y vendibles – combustibles sí, aumentar eficiencia y disminuir necesidades, no. ¿Consumir menos? Ni hablar. Aun más ahora que estamos convencidos que el consumo es el antídoto de la depresión – económica o humana – y la pastilla de la felicidad.
En la agricultura esa perversa lógica ha encontrado un campo fértil. Allí, la tónica de los últimos siglos ha sido la sustitución de “viejas” técnicas de producción que priorizaban los recursos locales por otras, más “modernas”, basadas en insumos industriales. Muchas de esas sustituciones significaron, y significan, menos secuestro y más emisión de gases invernaderos. Caballos por tractores, leguminosas por urea, asociaciones y rotaciones por plaguicidas. En ese mismo periodo se amplía el maquillaje de los productos agrícolas, así como las millas que recorren hasta el consumo. Se gasta más energía, se emiten más gases.
La Agricultura Ecológica desde hace algunas décadas busca reescribir esa historia, dejando lo “moderno” ultrapasado haciendo de lo “viejo” la novedad. Sencilla en su práctica, sofisticada en su intento de explicarla, la mezcla de saberes ancestrales y conocimientos contemporáneos viene funcionando en numerosos rincones latinoamericanos. Evitando emisiones de la fabricación y distribución de los arsenales militares travestidos de insumos agrícolas, mantiene los ciclos de nutrientes más cercanos a los ciclos naturales y emite menos gases que hacen del planeta un gran invernadero.
Asimismo, genera condiciones para que hombres y mujeres se queden en el campo, presiona menos los recursos naturales, produce alimentos y fibras de calidad. De paso, enfría el planeta, utilizando la feliz expresión de Vía Campesina.
Si la salida para el calentamiento global requiere nuevas alternativas de energía, y el sol debe ser una de las principales fuentes a ser adoptadas, nada más lógico que buscar una producción agrícola que tenga como matriz energética el sol. Cambiando insumos industriales basados en el petróleo por insumos naturales basados en la fotosíntesis ­­ urea por leguminosas, plaguicidas por asociaciones y rotaciones,…
Hacer agricultura enfriando el planeta no es una tarea estrictamente agronómica. Hace falta una mirada en todo el sistema agroalimentario. Promover los productos locales y el comercio local, por motivos obvios, es también condición indispensable para ello. El concepto de “food miles” es antiguo y hoy sabemos que para que un consumidor europeo pueda consumir un kilogramo de fresas del Sur de Brasil, en el otoño, 13 kg de CO2 deben ser emitidos apenas en el trayecto interoceánico.
El ejemplo de la agricultura es emblemático y podría servir de referencia sobre el modus operandi de la sociedad contemporánea. Problema identificado, el hambre. La pseudo busca de soluciones empieza con aumentar la producción mundial de alimentos. Para ello, a partir de problemas técnicos reales, falsas necesidades han sido creadas. Soluciones vendidas. Una revolución propuesta. Efectos colaterales, sociales y ambientales, ignorados. Incluso el objetivo que ha sido alcanzado, el aumento de la producción, no solucionó el problema, el hambre.
Esos hechos se vuelven comunes, ahora que la política está descolgada de la ética y sometida a la economía, las personas son consumidores y la vida se vuelve mercancía. Revertir eso depende de la misma ecuación que demuestra ser exitosa en la agricultura: hacer de lo viejo lo moderno, mezclando pasado y futuro, recreando el ahora.
Los ejemplos de cómo hacer agricultura ecológica tienen como protagonistas los mismos actores citados al inicio, presentes en la reunión en Brasilia. Definitivamente no son ellos los responsables del calentamiento global, aunque el discurso oficial insista “que cada uno debe hacer su parte” para mitigar el problema. En su caso, “hacer su parte” significa seguir haciendo lo que han hecho a través de los siglos, manteniendo y defendiendo los modos de producción agrícola, e incluso de vida, que ellos mantienen y defienden desde siempre. A los otros, les toca seguir el ejemplo, reencontrar su camino.



[1] Ing. Agrónomo, coordinador del Centro Ecológico, ONG que desde 1985 trabaja con asesoría y formación en Agricultura Ecológica en el sur de Brasil